Busca por estabilidade profissional e independência financeira adia gravidez das brasileiras

Rosana Maria dos Reis comenta estudo do IBGE e discorre sobre qual a idade ideal para engravidar sem que ocorram maiores riscos às mães e seus filhos

  Publicado: 05/06/2024
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O desejo de gravidez acontece mais tardiamente, uma vez que o sucesso profissional demanda tempo – Foto: Freepik
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Segundo o Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de gravidez entre brasileiras de até 19 anos caiu 43% entre os Censos de 2010 e 2022, ao passo que foi registrado aumento de 17% no número de mulheres que se tornaram mães após os 40 anos no mesmo período. A professora Rosana Maria dos Reis, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia (DGO) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, analisa os motivos pelos quais as mulheres estão postergando o processo de gravidez.

Segundo a especialista, a gravidez planejada tem sido adiada principalmente por causa do contexto da vida moderna, no qual as mulheres estão cada vez mais inseridas no mercado de trabalho e a opção de gestar tem sido adiada em função da formação profissional. Além disso, ela conta que as mulheres, de maneira geral, buscam primeiramente a estabilidade profissional e independência financeira para a seguir planejar a gravidez; dessa forma, o desejo de gravidez acontece mais tardiamente, uma vez que esse sucesso profissional demanda tempo.

Idade ideal

Conforme a especialista, do ponto de vista biológico, o ideal é que a gravidez ocorra quando a mulher apresente quantidade e qualidade de óvulos satisfatórias, que acontece entre 15 e 35 anos de idade. Ela destaca, porém, que antes dos 15 anos, embora as mulheres apresentem excelente quantidade de óvulos, caracterizando uma boa reserva ovariana, existe uma maior chance dos óvulos apresentarem alterações cromossômicas denominadas aneuploidias, as quais podem comprometer o desenvolvimento embrionário.

Rosana Maria dos Reis – Foto: ResearchGate

Além disso, a docente destaca o fato de que adolescentes nos primeiros anos após o início dos ciclos menstruais apresentam imaturidade na formação dos ossos do quadril, fator que pode interferir no momento do parto e trazer dificuldades para a resolução da gestação com parto via vaginal. Ela ressalta que a idade precoce também contribui com desfechos desfavoráveis na gestação, possibilitando maior incidência de prematuridade, eclâmpsia e depressão pós-parto.

“Isso tudo sem mencionar, é claro, os fatores psicológicos e psicossociais desastrosos que acontecem com a gestação na adolescência, seja na fase precoce ou na fase tardia, entre 15 e 19 anos. Ou seja, por mais que biologicamente apresentem quantidade e qualidade de óvulos adequadas, adolescentes não deveriam engravidar nunca”, diz.

Complicações

De acordo com Rosana, se, por um lado, a gravidez precoce pode apresentar riscos para a adolescente e para o bebê, gestar com idade mais avançada também pode causar certas complicações. Após os 35 anos, as mulheres começam a apresentar dificuldades para engravidar, uma vez que, a partir dessa idade, ocorre uma intensificação em suas reservas ovarianas, comprometendo a reserva dos óvulos para fecundação.

Associada à diminuição dessa reserva, a docente destaca também a diminuição na qualidade dos óvulos, que pode causar comprometimento na taxa de formação de embriões de boa qualidade do ponto de vista genético. Ela conta que a junção desses dois fatores, de queda de qualidade e quantidade de óvulos, causa maiores chances de taxas de aborto e de nascimento de crianças com síndrome genéticas, tal qual a síndrome de Down. “Existe também o agravante das doenças e complicações durante a própria gravidez, como a maior incidência de diabete gestacional, hipertensão arterial e também na resolução da gestação com maior incidência de parto por cesariana ao invés do vaginal”, reforça.

Métodos

Conforme Rosana Maria dos Reis, existem técnicas modernas para garantir que as mulheres possam ter filhos mesmo com idade mais avançada, quando a estabilidade profissional e financeira estiver ajustada, sem que haja maiores riscos à sua saúde e à do bebê. Ela destaca a importância de analisar e conciliar as metas profissionais com a constituição de família, sempre analisando os riscos envolvidos na gestação tardia.

“Na impossibilidade de gestação no período ideal, entre 20 e 35 anos, pode ser planejado congelamento de óvulos antes dos 35 anos; dessa maneira, será possível realizar uma tentativa de gravidez mais tardiamente com técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, a qual conta com boas chances de sucesso de gravidez e nascimento de crianças saudáveis. Mas não se pode esquecer que a gestação a partir dos 40 anos está sempre associada ao maior risco de complicações”, finaliza.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

Fonte: Jornal da USP


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