*Kelli Pontes
A história do tabagismo e sua ascensão é longa e bem complexa. Algumas décadas atrás, éramos bombardeados com inúmeras propagandas, com belas paisagens e pessoas bonitas, incentivando o uso de cigarros. Minimizava-se os riscos, e era comum familiares/amigos fumantes desconhecerem os malefícios e incentivarem a prática. A “pressão”, as influências ou a aceitação social eram os principais fatores que favoreciam o início de um hábito viciante e letal. Hoje, muitos que começam, especialmente os mais jovens, são atraídos por novidades como o cigarro eletrônico e aqueles com sabores.
Por ser um vício silencioso, muitas vezes se desenvolve de forma gradual e progressiva. No início, é comum a justificativa de se fumar ocasionalmente mas, com o tempo, o consumo aumenta sem se perceber o nível de dependência até decidir, voluntariamente ou não, pela supressão. Mesmo associado a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, câncer de pulmão, doenças respiratórias e vários outros problemas, muitos utilizam o tabaco como um mecanismo de enfrentamento, para lidar com estresse, ansiedade, depressão ou regulação do humor. Pois sentem que, embora temporariamente, o ato de fumar tende a melhorar o seu estado de ânimo e proporcionar a sensação de prazer e recompensa, e com isso reforça o desejo contínuo de repetir o comportamento, tornando o indivíduo cada vez mais dependente da mesma sensação (elevação da dopamina).
Há ainda comportamentos associados a situações específicas, como fumar após as refeições, café, sexo, em meio à interação social, pausa no trabalho, o que pode ser definido como um hábito ritualizado. Com o tempo, esse hábito pode gerar uma dependência psicológica. À medida que o uso do fumo se torna um abono diário, cria-se um ciclo de comportamento em que fumar não é apenas um desejo físico, mas também uma necessidade emocional e comportamental.
Mesmo que se torne um ato ritualizado, alterar ou interromper o hábito pode ser particularmente desafiador, mas nunca impossível. Então, escolha um dia específico para parar de fumar e comprometa-se a não adiar. Identifique os momentos e situações que desencadeiam o desejo de fumar e desenvolva estratégias para lidar com esses gatilhos sem recorrer ao cigarro.
Substitua o ato de fumar por atividades saudáveis, como: caminhadas e corridas, natação, ciclismo, meditação, leitura; passar tempo com amigos e familiares pode melhorar o humor e reduzir o estresse; ou até mesmo participar de atividades de voluntariado, dedicar-se à jardinagem, à música ou a aprender técnicas de relaxamento, que ajudam a desviar a mente do desejo de fumar.
Informe seus amigos, familiares e colegas sobre sua decisão de parar de fumar. O apoio de pessoas próximas pode fornecer motivação e encorajamento. Se necessário, busque suporte especializado, como terapia comportamental, que ajuda a reconfigurar o sistema de recompensa do cérebro e auxiliar na superação de vícios e comportamentos compulsivos. Outra estratégia é participar de grupos de apoio ou programas de cessação do tabagismo, para ajudar na transição e criar novos comportamentos.
Atualmente, com informações do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer, a Fundação João Paulo II oferece acolhimento/orientação psicológica e encaminhamento ao PRAD (Programa de recuperação Alcoolicos e Drogadictos) àqueles que se sentem confortáveis para discutir suas intenções de parar de fumar e buscar apoio sem medo de estigmatização ou discriminação. Além de realizar campanhas internas de conscientização sobre os riscos do tabagismo e os benefícios da cessação por meio de palestras e eventos de saúde.
Abandonar o consumo de cigarro é um processo que exige paciência e perseverança, porém traz como recompensa a preservação ou melhora da saúde física e mental, além da longevidade.
*Kelli Aparecida da Silva Pontes é psicóloga e pós-graduada em saúde mental. Atua como psicóloga clínica e organizacional na Fundação João Paulo II.