Análise sobre o caso João de Deus

Texto de Renato Riella

O Movimento Espírita do Brasil, o mais forte do mundo, nunca avalizou o médium João de Deus.
Já questionei isso muitas vezes, perguntando com faro de repórter junto a diversos orientadores sérios e de nível elevado. Todos esses têm a prática de não julgar ninguém. Mesmo sendo cuidadosos, explicam o caso.
João de Deus, efetivamente dotado de elevado dom de mediunidade, é elemento dissociado de qualquer estrutura organizacional. Responde isoladamente pelos seus próprios atos, inclusive junto à Justiça. E pode errar, pelas fragilidades do ser humano.

Neste século, o Espiritismo já não tem autorização espiritual para produzir efeitos fantásticos. Fenômenos foram comuns desde o Século XIX, para impressionar o mundo e conquistar apoio, inclusive de cientistas. Havia materializações e mesas que se mexiam sozinhas, etc. Show!

Os “milagres” hoje persistem em médiuns desgarrados, que vão aos poucos deixando de existir.

Divaldo Franco nunca fez proezas, mas é um dos maiores nomes do Espiritismo mundial. Ele nos oferece conceitos profundos. E tem uma obra social na Bahia que já beneficiou multidões, principalmente crianças.

Com quase 100 anos, Divaldo faz o automilagre de trabalhar com a garra de um adolescente. Ele previne sempre contra o Espiritismo de fenômenos. Mas diz que ninguém é infalível. Por isso é preciso haver uma organização que impeça os abusos.

Na nossa geração, o Espiritismo adota uma comunicação responsável com os espíritos, em busca de respostas para as questões da humanidade. Sem barulho, quase sem mídia.

A depressão, por exemplo, é tratada nas casas espíritas, mas existe orientação forte para que o paciente não abandone as consultas, nem a medicação proposta pelos médicos.

As casas espíritas, com regras rígidas de ética e comportamento, oferecem de graça orientação aos seres humanos. Orientam também, em sessões espiritas coletivas bem organizadas, os espíritos que estejam desorientados e perdidos no espaço.

Acreditem: há pessoas muito ligadas à Terra que morrem e não aceitam esta realidade. Viram fantasmas. Nas sessões espíritas, com muita técnica, essas almas desgarradas conseguem ser levadas a um atendimento espiritual superior.

E seguem em direção à eternidade, aceitando a morte como uma evolução.

Já participei, como observador, de três impressionantes sessões. Assisti casos maravilhosos, com visão de repórter.

Vi, por exemplo, uma moça que havia morrido de doença. Ela se recusava a aceitar que havia virado um espírito. Falando pela boca de uma médium jovem, reclamava porque a casa da sua mãe vivia fechada – e dizia: “Onde vou passar o Natal?”

Depois de 15 minutos de diálogo, os médiuns participantes da sessão conseguiram convencer a moça a aceitar a própria morte. Recebeu, então, a ajuda dos assistentes espirituais, que estavam ao lado dela. Estes levaram a garota para uma nova existência no espaço, sem ligação com as coisas da Terra. A caminho da eternidade.

Aos humanos, as casas espíritas oferecem, de graça, o “passe”, que é feito sem nenhum contato físico. Visa harmonizar o indivíduo.

É um efeito energético fantástico, com sessões públicas gratuitas diariamente (de noite, na Comunhão Espírita, por exemplo: 404 Sul).

Diariamente, geralmente à noite, há palestras maravilhosas, gratuitas, nas casas espíritas. Em muitas dessas palestras, estudiosos de alto nível respondem a qualquer tipo de pergunta. Ninguém é obrigado a acreditar em nada – mas pode perguntar. Há muitos ateus que vão lá como curiosidade. Quem sabe?

Não existe mais a prática de “milagres”. As grandes curas podem continuar ocorrendo em médiuns desgarrados, que usam o seu poder para prestar serviços, muitas vezes com efeitos reais e grande utilidade prática. Há outros que têm vidência, mas essa vidência não deve ser usada para fins comerciais, por exemplo.

Muitas vezes os médiuns desgarrados perdem-se na vaidade, nas tentações ou mesmo na busca de dinheiro. Um dia serão cobrados por Deus. Mesmo com poderes, esses médiuns têm todas as fragilidades do ser humano. Eles estão usando mal o chamado livre arbítrio.

Portanto, João de Deus não representa o Espiritismo. Se estivesse regido pelo Movimento Espírita, teria regras muito rígidas a seguir. E sofreria uma verdadeira fiscalização, para evitar riscos. Não decidiria nada sozinho.

Lembro que existe a imposição de mãos, sem contato físico, que pode gerar efeitos milagrosos em pacientes, mas não é uma “cirurgia espiritual”.

Fui testemunha de um fato maravilhoso. Um médium de Brasília fez imposição de mãos, durante dez minutos, numa pessoa em estado de coma. O efeito foi tão forte, que o batimento cardíaco do paciente desacordado passou de 80 batidas para 140, voltando ao normal depois da prática. E houve sensível evolução nos dias seguintes.

Reconheçamos que João de Deus é um médium poderoso, com efeitos reais, mas infelizmente tem comportamento próprio, que impôs a si mesmo. Isso é perigoso.

Ele deve responder pelos seus atos individualmente. Precisa passar pelo que se chama de reforma íntima. Enquanto estiver vivo isso é possível. Rezemos por esse médium, reconhecendo muita coisa boa que possa ter feito.

João de Deus não representa o Espiritismo, que é hoje uma ciência bastante séria, desprovida de interesses pessoais ou financeiros, como foi sempre o maior brasileiro de todos os tempos, Chico Xavier, que deixou mais de 400 livros escritos sob inspiração de espíritos muito elevados.

Escrevo esse texto depois de ver o Programa do Bial, no qual mulheres acusam João de Deus por abuso sexual.

Isso não anula milhões de curas que ele possa ter feito em 30 anos, mas macula o homem João de Deus, que deve responder pelos seus atos de cidadão.

Deus está de olho nele. Este escândalo já é uma grande provação. (RENATO RIELLA)

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JORGE RORIZ